terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O Ano Litúrgico



Iniciamos na Igreja o novo ano litúrgico com o tempo do Advento. Somos convidados a caminhar durante um ano celebrando os Mistérios de nossa Fé e buscando viver a Palavra de Deus em nosso dia a dia.
        Dentro da pedagogia da Igreja, que aos domingos aumentou as leituras bíblicas, sendo sempre três distribuídas ao longo de três de anos, estamos vivendo o assim chamado “ano B”, que tem como evangelista principal São Marcos.  Na maior parte do ano litúrgico seremos acompanhados na proclamação desse Evangelho que irá nos mostrar os caminhos do Senhor durante este ano. Quem participa das Missas aos domingos, ao final de três anos terá escutado quase toda a Bíblia proclamada, cantada e rezada na liturgia.
Mas junto com a abundância dos textos, a distribuição do ano litúrgico com seus sinais, cores, cantos e celebração dos principais mistérios de nossa fé nos ajudará a viver a “espiritualidade bíblico-litúrgica”, que é base de todas as demais, e nos alimenta em nossa caminhada.
         Sim, junto com toda a Igreja a Eucaristia nos alimenta e é nossa vida! E, ao participar, experimentamos que Cristo nos acompanha e está ressuscitado em nossas comunidades que celebram a Sua presença e se tornam, por isso mesmo, testemunhas da Ressurreição. Infelizmente os tempos atuais têm levado as pessoas a perderem o carinho e a motivação para celebrar semanalmente o “Dia do Senhor”. Sabemos que a Igreja nos recomenda participar da Sagrada Eucaristia, a Missa, também durante a semana, mas sabe que pelo menos ao domingos não se pode deixar de participar, pois é um bem para cada cristão e para as comunidades. Quando não se guarda mais o Domingo e se deixa de participar do Sacrifício Eucarístico, acabamos perdendo o caminho de nosso alimento e de nossa espiritualidade. Pouco a pouco iremos “esfriando” a nossa vida cristã, e com os ataques da cultura atual podemos sucumbir nesse deserto da vida sem o alimento que nos restaura semanalmente.  
A base de toda espiritualidade, assim como de nossa retidão de doutrina, é a boa participação dominical, quando a Missa é celebrada de acordo com as instruções da Igreja e cria no coração de cada membro do povo de Deus o Amor e entusiasmo que deve nos conduzir como discípulos-missionários, vivendo permanentemente em estado de Missão.
          Como mãe preocupada com a Saúde Espiritual de seus filhos, a Igreja chamará sempre a nossa atenção para essa caminhada que iniciamos neste final de semana com o novo ano litúrgico. Começamos com a expectativa e preparação da “vinda do Senhor” na história!  Ele já veio quando nasceu em Belém de Judá e Ele virá no final dos tempos para julgar os vivos e os mortos, e entre essas duas vindas, Ele vem a cada um de nós que O acolhe e aceita a Sua presença que transforma nossas vidas e entusiasma nossos corações.  No Advento contemplamos essas “vindas” de Jesus, mesmo sabendo que Ele, hoje, está vivo, ressuscitado e nos precede no seio do Pai, onde foi nos preparar um lugar. Por isso mesmo, uma das atitudes esperadas neste tempo é uma boa celebração penitencial ou confissão que nos coloque de coração aberto para ser o “presépio” que acolhe o Senhor da Vida.  Eis, portando, que se abre o ano litúrgico! E o convite da Igreja é para que aproveitemos cada instante para participarmos de todos os   atos litúrgicos, da celebração dos sacramentos e em especial da Missa. Nela temos sempre a atualização do tríduo pascal: a Ceia da quinta-feira santa, o sacrifício da cruz da sexta-feira santa, e a ressurreição do sábado santo.  A palavra proclamada nos atualizará as orientações do Senhor, e a liturgia, com suas características próprias de cada tempo, nos conduzirá na espiritualidade.         Vem, Senhor Jesus, é o grito do início ao ano litúrgico, refletindo a humanidade que esperava a vinda do Messias, e é também o final das Escrituras na expectativa d’Aquele que virá no final dos tempos. Vivamos com entusiasmo e piedade este tempo que, apesar de toda propaganda que praticamente desconhece o Advento e pela preocupação do consumo, já faz com que todo o apelo seja desde já o Natal. A coroa do Advento que nos acompanhará nos quatro domingos que antecedem o Natal e que abrem o ano litúrgico será um belo sinal em nossas Igrejas e também em nossas casas, pois nos ajuda a estarmos também nós na expectativa d’Aquele que “abriu os céus e desceu” para armar Sua tenda no meio de nós!

Natal: Liturgia e Tradições
No tema principal desenvolvido pela liturgia de Natal encontramos os elementos básicos da teologia e da pastoral da festa. O Natal não é só uma recordação de algo que sucedeu na história. Constantemente a liturgia enfatiza que o fato do nascimento de Jesus Cristo está ordenado à Redenção, à Páscoa, à Parusia. Segundo a terminologia dos antigos, o Natal é uma mcmoria (mistério), cujo centro é a morte e ressurreição de Jesus Cristo, sempre presente e operante, como alma de toda celebração litúrgica.

Ao redor da liturgia de Natal formou-se, no decurso dos séculos, uma série de costumes folclóricos que contribuíram para criar um ambiente festivo na intimidade das famílias e nas ruas das aldeias e cidades. Já no século V foram compostos cantos populares sobre o mistério da Encarnação, inspirados na teologia e na liturgia de Natal. Quando, no século XIII, São Francisco de Assis e seus discípulos propagam a devota prática de construir presépios nas igrejas e nas casas, se estendem as cantigas de Natal, caracterizados pelo tom simples e ingênuo de suas letras e de suas melodias que se referem preferentemente aos sentimentos da Virgem e dos pastores ante a pobreza que Deus escolheu ao tomar um corpo humano. 

Como para expressar visivelmente o significado da "iluminação" obtida pelo nascimento de Jesus Cristo, há muito tempo se introduziu o hábito de acender fogos durante a noite de Natal, substituindo tradições pré-cristãs. A iluminação extraordinária dos lugares públicos durante o tempo de Natal se inspirou nesses usos.

Desde o século XVI, nos países nórdicos, começa o hábito de reunir-se em torno de uma árvore ? a árvore de Natal ?, símbolo da graça alcançada pela Encarnação e pela morte na árvore da cruz de Jesus Cristo, em contraposição ao pecado que se originou na árvore do paraíso.

Também, se destinou para o dia de Natal a prática de trocar presentes e felicitações; prática sugerida pela que existia em Roma no primeiro dia do ano, chamada estréia. No início, simbolizava-se que era o menino Jesus quem oferecia os presentes; e mais adiante, seriam os Reis Magos quem distribuíam os dons, e não tanto pelo Natal como pela Epifania, em que se comemora o fato da entrega de seus obséquios a Jesus Cristo. 

Por último, durante a oitava de Natal se celebram as "memórias" dos Santos Estevão, João Evangelista e Inocentes, como as mais antigas, às que o Oriente acrescentava a dos Santos Pedro e Paulo.

Tradições e Costumes 

As tradições e costumes são uma maneira de fazer presente o que ocorreu ou o que se costumava fazer nos tempos passados. São os fatos ou obras que se transmitem de uma geração a outra de forma oral ou escrita. A palavra tradição vem do latim "traditio" que vem do verbo "tradere" que significa entregar. Poder-se-ía dizer que tradição é o que nossos antepassados nos entregaram. 

No caso da Natal, o mais importante das tradições e costumes não é só o aspecto exterior mas seu significado interior. Deve-se conhecer por quê e para quê se levam a cabo as tradições e costumes para assim poder vivê-las intensamente. Este é um modo de evangelizar. 

Existem muitas tradições e costumes tanto do Advento como do Natal, os quais nos ajudam a viver o espírito natalino; contudo, devemos recordar que este espírito encontra-se na meditação do mistério que se celebra. 

O calendário 

Ao fixar-se esta data, também ficaram fixadas à da Circuncisão e da Apresentação; a da Expectação (Nossa Senhora da Esperança) e, quiçá, a da Anunciação da Santíssima Virgem Maria; também a do Nascimento e Concepção do Batista. Até o século décimo o Natal era considerado, nos documentos pontifícios, o inicio do ano eclesiástico, como continua sendo nas Bulas; Bonifácio VIII (1294-1303) restaurou temporalmente este costume, o qual a Alemanha sustentou durante algum tempo mais.

As três Missas 

As três missas assinaladas para esta data no Missal de Gelasio e no Gregoriano, com um martirológio especial e sublime, e com a dispensa, se for necessário, da abstinência, ainda hoje são guardadas. Embora Roma indique somente três Missas para o Natal, Ildefonso, um Bispo espanhol de 845, alude a uma tripla Missa no Natal: Páscoa, Pentecostes, e a Transfiguração. Estas Missas, de meia noite, ao alvorecer, e in die, estão misticamente relacionadas com a distribuição judia e cristã, ou ao triplo "nascimento" de Cristo: na Eternidade, no Tempo, e na Alma. As cores litúrgicas variavam: negro, branco, vermelho; e o Glória era só entoado ao princípio da primeira Missa desse dia.

Os presépios

No ano 1223 São Francisco de Assis deu origem aos presépios que atualmente conhecemos, popularizando entre os leigos um costume que até esse momento era do clero, fazendo-o extra-litúrgico e popular. A presença do boi e do burro deve-se a uma errônea interpretação de Isaías 1, 3 e de Habacuc 3, 2 (versão "Italiana"), apesar de aparecerem no magnífico "Presépio" do século quarto, descoberto nas catacumbas de São Sebastião no ano de 1877. 

Os hinos e cantigas de natal 

As primeiras cantigas de natal que se conhecem foram compostos pelos evangelizadores no século V com a finalidade de levar a Boa Nova aos aldeãos e camponeses que não sabiam ler. Suas letras falavam em linguagem popular sobre o mistério da encarnação e estavam inspiradas na liturgia da Natal. Chamavam-se "villanus" ao aldeão e com o tempo o nome mudou para vilancicos (do Espanhol "villancicos"). Estas falam em um tom simples e engenhoso dos sentimentos da Virgem Maria e dos pastores ante o Nascimento de Cristo. No século XIII estendem-se por todo o mundo junto com os presépios de São Francisco de Assis. 

O famoso "Stabat Mater Speciosa" é atribuído a Jacopone Todi (1230-1306); "Adeste Fideles" data do século decimo sétimo. Mas, estes ares populares, e inclusive palavras, devem ter existido muito tempo antes que fossem postos por escrito. 

Os vilancicos, ou cantigas de Natal, favoreciam a participação na liturgia de Advento e de Natal. Cantar cantigas de Natal é um modo de demostrar nossa alegria e gratidão a Jesus e escutá-los durante o Advento ajuda à preparação do coração para o acontecimento do Natal. 

Os cartões de Natal

O costume de enviar mensagens natalinas se originou nas escolas inglesas, onde se pedia aos estudantes que escrevessem algo que tivesse a ver com a temporada natalina antes de sair de férias de inverno e o enviassem pelo correio à sua casa, com a finalidade de que enviassem a seus pais uma mensagem de Natal. 

Em 1843, W.E. Dobson e Sir Henry Cole fizeram os primeiros cartões de Natal impressos, com a única intenção de por ao alcance do povo inglês as obras de arte que representavam o Nascimento de Jesus. 

Em 1860, Thomas Nast, criador da imagem de Papai Noel, organizou a primeira grande venda de cartões de Natal em que aparecia impressa a frase "Feliz Natal". 

A Árvore De Natal 

Os antigos germânicos criam que o mundo e todos os astros estavam sustentados pendendo dos ramos de uma árvore gigantesca chamada o "divino Idrasil" ou o "deus Odim", a quem rendiam culto a cada ano, no solstício de inverno, quando se supunha que se renovava a vida. A celebração desse dia consistia em adornar um pinheiro com tochas que representavam as estrelas, a lua e o sol. Em torno desta árvore bailavam e cantavam adorando ao seu deus. 

Contam que São Bonifácio, evangelizador da Alemanha, derrubou a árvore que representava o deus Odim, e no mesmo lugar plantou outro pinheiro, símbolo do amor perene de Deus e o adornou com maçãs e velas, dando-lhe um simbolismo cristão: as maçãs representavam as tentações, o pecado original e os pecados dos homens; as velas representavam Cristo, a luz do mundo e a graça que recebem os homens que aceitam Jesus como Salvador. Este costume se difundiu por toda a Europa na Idade Média e com as conquistas e migrações chegou à América. 

Pouco a pouco, a tradição foi evoluindo: trocaram as maçãs por bolas e as velas por luzes que representam a alegria e a luz que Jesus Cristo trouxe ao mundo. 

As bolas atualmente simbolizam as orações que fazemos durante o período de Advento. As bolas azuis são orações de arrependimento, as prateadas de agradecimento, as douradas de louvor e as vermelhas de preces. 

Costuma-se colocar uma estrela na ponta do pinheiro, que representa a fé que deve guiar nossas vidas. 
Também costuma-se pôr adornos de diversas figuras na árvore de Natal. Estes representam as boas ações e sacrifícios, os "presentes" que daremos a Jesus no Natal. 

Para aproveitar a tradição: Adornar a árvore de Natal ao longo de todo o advento, explicando às crianças o simbolismo. As crianças elaborarão suas próprias bolas (24 a 28 dependendo dos dias que tenha o Advento) com uma oração ou um propósito em cada uma, e conforme passem os dias as irão colocando na árvore de Natal até o dia do nascimento de Jesus. 

Papai Noel (Santa Claus) ou São Nicolau 

A imagem de Papai Noel, velhinho gorducho e sorridente que traz presentes às crianças boas no dia do Natal teve sua origem na historia de São Nicolau. 

Existem várias lendas que falam acerca da vida deste santo: 

Em certa ocasião, o chefe da guarda romana daquela época, chamado Marco, queria vender como escravo um menino muito pequeno chamado Adrian e Nicolau o impediu. Em outra ocasião, Marco queria apoderar-se de umas jovenzinhas se seu pai não lhe pagasse uma dívida. Nicolau se inteirou do problema e decidiu ajudá-las. Tomou três sacos cheios de ouro e na Noite de Natal, em plena escuridão, chegou até a casa e colocou os sacos pela chaminé, salvando, assim, as meninas. 

Marco, que queria acabar com a fé cristã, mandou queimar todas as igrejas e prender todos os cristãos que não quisessem renegar sua fé. Assim foi como Nicolau foi capturado e preso. Quando o imperador Constantino se converteu e mandou liberar todos os cristãos, Nicolau havia envelhecido. Quando saiu do cárcere, tinha a barba crescida e branca e tinha as roupas vermelhas que o distinguiam como bispo; contudo, os longos anos de cárcere não conseguiram tirar sua bondade e seu bom humor. 

Os cristãos da Alemanha tomaram a história dos três sacos de ouro deixados pela chaminé no dia de Natal e a imagem de Nicolau ao sair do cárcere, para tecer a história de Papai Noel, velhinho sorridente vestido de vermelho, que entra pela chaminé no dia de Natal para deixar presentes para as crianças boas. 
O Nome "Santa Claus" vem da evolução paulatina do nome de São Nicolau: St. Nicklauss, St. Nick, St. Klauss, Santa Claus, Santa Clos. 
Não obstante, o exemplo de São Nicolau nos ensina a ser generosos, a dar aos que não têm e a fazê-lo com discrição, com um profundo amor ao próximo. Nos ensina além disso, a estar atentos às necessidades dos demais, a sair de nosso egoísmo, a ser generosos não só com nossas coisas mas também com nossa pessoa e nosso tempo.  
Por isso, o Natal é um tempo propício para imitar São Nicolau em suas virtudes

Sagrada Família 
Foi Leão XIII quem instituiu essa festa, para, diz ele, ao desregramento dos costumes criado pelo Liberalismo, opor a austeridade do lar nazaretano.

De fato, nessa risonha cidadezinha da Galiléia, viviam do trabalho honesto de S. José, o Deus Menino e a mais pura das criaturas saídas das mãos de Deus, Maria Santíssima. Viviam todos de dedicações e renúncias, obedecendo à ordem normal estabelecida por Deus na primeira sociedade oriunda da própria natureza, a Família. 

Jesus obedecia à Maria e a José, e aquela seguia a orientação deste, o chefe da casa. E nesta ordem, nesta renúncia, neste amor mantinha-se a coesão do lar e a felicidade de todos. Família modelar feita por Deus como protótipo de todos os lares bem formados.

Oxalá fossem as intenções do Papa atendidas! Não teríamos progredido no egoísmo liberal até aos seus mais lídimos frutos.

Estamos cansados de ouvir dizer que a Família é a célula da sociedade. De onde aprendemos que a defesa da sociedade está na defesa da Família. E ao Estado nada mais interessa do que amparar e fomentar os laços que tornem mais sólidos os vínculos familiares, e impedir ou destruir ou dificultar o mais possível as causas que enfraquecem ou destróem a união dos membros da família. 

Trata-se de uma auto-defesa, pois a morte da família acarreta a morte do Estado, melhor da sociedade civil que mereça esse nome. Pois que a destruição da família deixa o indivíduo inerme diante do alvedrio tirânico de um Estado absorvente. Segundo a ordem natural das coisas, é a família o alicerce da sociedade maior, a sociedade civil, enquanto ela se distingue especialmente de uma aglomerado de animais, ou seja, enquanto ela é civil, isto é humana. De onde destruída a família, não se mantém mais a sociedade civil. Os laços que unirão os homens num mesmo lugar perderão aquela unção humana própria da nossa espécie.

O que quer dizer que todos devemos nos empenhar por defender a família. Infelizmente não é ao que assistimos. Por toda parte fomentam-se os fatores desagregadores da família. Em todo lugar alimenta-se de todos os modos a paixão que exacerba o egoísmo, inimigo de toda dedicação, ou seja da união familiar, feita de renúncias e dedicações.

E como se isso não bastasse uma instabilidade econômica que deixa as classes menos favorecidas na incerteza do dia de amanhã. Desde que o momento é denominado pela preocupação econômica, ao menos que se firmem salários e custo de vida, de maneira que, sarado este mal, se possa cuidar dos outros fatores da estabilidade do lar, ou melhor de expurgar a sociedade dos fatores dissolventes da vida familiar.

Jesus apresentado no templo
 cena da apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém apresenta uma catequese bem amadurecida e bem refletida, que procura dizer quem é Jesus e qual a sua missão no mundo. Antes de mais, o autor sublinha repetidamente a fidelidade da família de Jesus à Lei do Senhor, como se quisesse deixar claro que Jesus, desde o início da sua caminhada entre os homens, viveu na escrupulosa fidelidade aos mandamentos e aos projetos do Pai. Desde o início da sua existência terrena, Ele entregou a sua vida nas mãos do Pai, numa adesão absoluta ao plano do Pai. A missão de Jesus no mundo passa por aí – pelo cumprimento rigoroso da vontade e do projeto do Pai.

Portanto, Jesus foi apresentado no Templo. Aí, duas personagens O acolhem: Simeão e Ana. Eles representam esse Israel fiel que espera ansiosamente a sua libertação e a restauração do reinado de Deus sobre o seu Povo. De Simeão diz-se que era um homem “justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel”.

As palavras e os gestos de Simeão são particularmente sugestivos… Simeão toma Jesus nos braços e apresenta-O ao mundo, definindo-O como “a salvação” que Deus quer oferecer “a todos os povos”, “luz para se revelar às nações e glória de Israel”. Jesus é, assim, reconhecido pelo Israel fiel como esse Messias libertador e salvador, a quem Deus enviou – não só ao seu povo, mas a todos os povos da terra. Aqui desponta um tema muito querido a Lucas: o da universalidade da salvação de Deus… Deus não tem já um Povo eleito, mas a sua salvação é para todos os povos, independentemente da sua raça, da sua cultura, das suas fronteiras, dos seus esquemas religiosos. As palavras que Simeão dirige a Maria: “este menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; e uma espada trespassará a tua alma”. Estas palavras aludem, provavelmente, à divisão que a proposta de Jesus provocará em Israel e ao resultado dessa divisão – o drama da cruz.

Ana é também uma figura do Israel pobre e sofredor (“viúva”), que se manteve fiel a Deus, não se voltou a casar, após a morte do marido, que espera a salvação de Deus. Depois de reconhecer em Jesus a salvação anunciada por Deus, ela “falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém”. A palavra utilizada por Lucas para falar de libertação é a palavra resgate, utilizada no Êxodo para falar da libertação da escravidão do Egito (cf. Ex 13,13-15; 34,20; Nm 18,15-16). Jesus é, assim, apresentado por Lucas como o Messias libertador, que vai conduzir o seu Povo do domínio da escravidão para o domínio da liberdade. A apresentação no Templo de um primogênito celebrava precisamente a libertação do Egito e a passagem da escravidão para a liberdade.

O texto termina com uma referência ao resto da infância de Jesus e ao crescimento do menino em “sabedoria” e “graça”. Trata-se de atributos que lhe vêm do Pai e que atestam, portanto, a sua divindade. Em conclusão: Jesus é o Deus que vem ao encontro dos homens com uma missão que lhe foi confiada pelo Pai. O objetivo de Jesus é cumprir integralmente o projeto do Pai… E esse projeto passa por levar os homens da escravidão para a liberdade e em apresentar a proposta de salvação de Deus a todos os povos da terra, mesmo àqueles que não pertencem tradicionalmente à comunidade do Povo de Deus.

Poderíamos dizer que se celebra hoje em toda a Igreja um singular “ofertório”, no qual os homens e as mulheres consagradas ao ministério de Jesus renovam espiritualmente o dom de si. Agindo desta forma, ajudam as comunidades eclesiais a crescer na dimensão oblativa que as constitui intimamente, as edifica e as estimula a testemunhar Jesus pelos caminhos do mundo.

A “apresentação do Senhor” no Templo de Jerusalém revela que, desde o início da sua caminhada entre os homens, Jesus escolheu um caminho de total fidelidade aos mandamentos e aos projetos do Pai. Ao oferecer-Se a Deus em oblação, ao ser “consagrado” ao Pai, Jesus manifesta a sua disponibilidade para cumprir fiel e incondicionalmente o plano salvador do Pai até às últimas conseqüências, até ao dom total da própria vida em favor dos homens.

Jesus é-nos apresentado, neste texto, como “a salvação colocada ao alcance de todos os povos”, a “luz para se revelar às nações e a glória de Israel”, o messias com uma proposta de libertação para todos os homens.

Que eco é que esta “apresentação” de Jesus tem no coração dos consagrados? Jesus é, de fato, a luz que ilumina as suas vidas e que os conduz pelos caminhos do mundo? Ele é o caminho certo e inquestionável para a salvação, para a vida verdadeira e plena? É n’Ele que colocam a sua ânsia de libertação e de vida nova? Este Jesus aqui apresentado tem real impacto na sua vida, nas suas opções, nos passos que dão no seu caminho de consagração, ou é apenas uma figura decorativa de certo cristianismo de fachada?

Simeão e Ana são, na cena evangélica que nos é proposta, figuras do Israel fiel, que foi preparado desde sempre para reconhecer e para acolher o messias de Deus. Na verdade, quando Jesus aparece, eles estão suficientemente despertos para reconhecer naquele bebé o messias libertador que todos esperavam e apresentam-n’O formalmente ao mundo.

Hoje, como discípulos que acolheram Jesus como a sua luz e que aceitaram segui-l’O temos a responsabilidade de O apresentar ao mundo e de O tornar uma proposta questionadora, libertadora, iluminadora, salvadora, para os homens nossos irmãos. É isso que acontece? Através do nosso anúncio – feito com palavras, com gestos, com atitudes, com a fidelidade aos compromissos exige o nosso batismo. A Vida cristã é chamada a refletir de maneira particular a luz de Cristo. É preciso que sejamos luz e conforto para cada pessoa, velas acesas que ardem com o próprio amor de Cristo, luz que ilumina as sombras do mundo e que profeticamente anuncia a aurora de uma nova realidade.

Semana Santa
A Semana Santa é o grande retiro espiritual das comunidades eclesiais, convidando os cristãos à conversão e renovação de vida. Ela se inicia com o Domingo de Ramos e se estende até o Domingo da Páscoa. É a semana mais importante do ano litúrgico, quando se celebram de modo especial os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. 

DOMINGO DE RAMOS - A celebração desse dia lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, aonde vai para completar sua missão, que culminará com a morte na cruz. Os evangelhos relatam que muitas pessoas homenagearam a Jesus, estendendo mantos pelo chão e aclamando-o com ramos de árvores. Por isso hoje os fiéis carregam ramos, recordando o acontecimento. Imitando o gesto do povo em Jerusalém, querem exprimir que Jesus é o único mestre e Senhor. 

2ª A 4ª FEIRAS – Nestes dias, a Liturgia apresenta textos bíblicos que enfocam a missão redentora de Cristo. Nesses dias não há nenhuma celebração litúrgica especial, mas nas comunidades paroquiais, é costume realizarem procissões, vias-sacras, celebrações penitenciais e outras, procurando realçar o sentido da Semana.

Tríduo Pascal 

O ponto alto da Semana Santa é o Tríduo Pascal (ou Tríduo Sacro) que se inicia com a missa vespertina da Quinta-feira Santa e se conclui com a Vigília Pascal, no Sábado Santo. Os três dias formam uma só celebração, que resume todo o mistério pascal. Por isso, nas celebrações da quinta-feira à noite e da sexta-feira não se dá a bênção final; ela só será dada, solenemente, no final da Vigília Pascal. 

QUINTA-FEIRA SANTA - Neste dia celebra-se a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio ministerial. A Eucaristia é o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, que se oferece como alimento espiritual.

De manhã só há uma celebração, a Missa do Crisma que, na nossa diocese, é realizada na noite de quarta-feira, permitindo que mais pessoas possam participar. 

Na quinta-feira à noite acontece a celebração solene da Missa, em que se recorda a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio ministerial. Nessa missa realiza-se a cerimônia do lava-pés, em que o celebrante recorda o gesto de Cristo que lavou os pés dos seus apóstolos. Esse gesto procura transmitir a mensagem de que o cristão deve ser humilde e servidor. 

Nessa celebração também se recorda o mandamento novo que Jesus deixou: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei.” Comungar o corpo e sangue de Cristo na Eucaristia implica a vivência do amor fraterno e do serviço. Essa é a lição da celebração.

SEXTA-FEIRA SANTA - A Igreja contempla o mistério do grande amor de Deus pelos homens. Ela se recolhe no silêncio, na oração e na escuta da palavra divina, procurando entender o significado profundo da morte do Senhor. Neste dia não há missa. À tarde acontece a Celebração da Paixão e Morte de Jesus, com a proclamação da Palavra, a oração universal, a adoração da cruz e a distribuição da Sagrada Comunhão.

Na primeira parte, são proclamados um texto do profeta Isaías sobre o Servo Sofredor, figura de Cristo, outro da Carta aos Hebreus que ressalta a fidelidade de Jesus ao projeto do Pai e o relato da paixão e morte de Cristo do evangelista João. São três textos muito ricos e que se completam, ressaltando a missão salvadora de Jesus Cristo.

O segundo momento é a Oração Universal, compreendendo diversas preces pela Igreja e pela humanidade. Aos pés do Redentor imolado, a Igreja faz as suas súplicas confiante. Depois segue-se o momento solene e profundo da apresentação da Cruz, convidando todos a adorarem o Salvador nela pregado: “Eis o lenho da Cruz, do qual pendeu a salvação do mundo. – Vinde adoremos”. 

E o quarto momento é a comunhão. Todos revivem a morte do Senhor e querem receber seu corpo e sangue; é a proclamação da fé no Cristo que morreu, mas ressuscitou. 

Nesse dia a Igreja pede o sacrifício do jejum e da abstinência de carne, como ato de homenagem e gratidão a Cristo, para ajudar-nos a viver mais intensamente esse mistério, e como gesto de solidariedade com tantos irmãos que não têm o necessário para viver. 

Mas a Semana Santa não se encerra com a sexta-feira, mas no dia seguinte quando se celebra a vitória de Jesus. Só há sentido em celebrar a cruz quando se vive a certeza da ressurreição. 

VIGÍLIA PASCAL - Sábado Santo é dia de “luto”, de silêncio e de oração. A Igreja permanece junto ao sepulcro, meditando no mistério da morte do Senhor e na expectativa de sua ressurreição. Durante o dia não há missa, batizado, casamento, nenhuma celebração. 

À noite, a Igreja celebra a solene Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”, revivendo a ressurreição de Cristo, sal vitória sobre o pecado e a morte. A cerimônia é carregada de ricos simbolismos que nos lembram a ação de Deus, a luz e a vida nova que brotam da ressurreição de Cristo.

Páscoa
Na liturgia pascal, quando da bênção do novo fogo, extraído da pedra, implora-se para que a Luz do Cristo, que ressurge glorioso, dissipe as trevas de nosso coração. 

Vivemos dias difíceis no mundo de hoje. Raro é o dia em que, ao ligarmos a televisão, dela não escorre o sangue da violência. Podemos contar os dias em que, ao abrimos os jornais pela manhã, nossas mãos não se ensangüentam com o sacrifício de tantas vidas de irmãos que sucumbiram vítimas do ódio, da cobiça e da luxúria da sociedade. E tantos jovens que se consomem no uso das drogas!

Jesus nos ensinou que o Reino de Deus está em nosso coração (cf. Lc. 17,20) ou, em outra tradução, já está entre nós. Tanto no primeiro sentido, quanto no segundo, a presença de Cristo que morreu e ressuscitou é a Luz que dissipa as trevas que o pecado gerou em cada um de nós e no nosso meio.

Caminhamos, durante a Quaresma, meditando, como  Igreja no Brasil, que a nossa segurança somente pode estar em Deus, que somente a volta para deixar-nos guiar pelo amor pode nos dar a almejada paz. 

O Cristo Ressuscitado aparecendo aos seus discípulos saudou-os desejando-lhes a paz: “A paz esteja convosco” (cf. Jo. 20,19) e lhe apresentou suas chagas gloriosas para alegria deles.

Três dias antes, a Maldade chegara ao extremo, quando condenaram-no à morte. Segundo a exposição do Divino Mestre aos discípulos que caminhavam tristes e desanimados para a aldeia de Emaús, ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, isto era necessário para que Cristo entrasse na sua glória.(cf. Lc.24,26)

O rastro do pecado e suas conseqüências que continuam no coração de todos aqueles que não se abrem ao amor de Deus somente será vencido quando nos deixarmos impregnar deste mesmo amor e, pela nossa vida, expandi-lo para todo o mundo. A sociedade somente caminhará para a paz se o foco de suas aspirações for o mandamento do amor.

Aqueles dois discípulos, continua a narração de Lucas, conheceram o Senhor quando Ele partiu o pão e logo confessaram que, já no caminho, sentiam inflamar-se o seu coração.

A Luz de Cristo é nos dada pela fé. O Cristo que se humilhara, assumindo a forma de servo, em cuja natureza humana sofreu a morte, pagou na sua carne o preço de nosso pecado, por isso ele foi glorificado (cf. Fil. 2,5-11) e, com ele, todos aqueles que o acolheram (cf. Jo.1, 12) e, mortos para o pecado, foram vivificados pela graça(cf. Rom.6,5).

São Paulo, nos ensina em continuidade do texto que nossa vida passada foi pregada na cruz, para que não sejamos mais escravos do pecado e na luta de cada dia nos conformemos com a morte de Cristo e comecemos a viver a vida de ressuscitados. Essa conformidade é a renuncia às paixões e vícios, à depravação que nos consome quando nos entregamos aos pecados capitais. É a vida nova marcada pela mesma caridade de Cristo, que, no pão partido, se dá a todos.

Esta é a Luz que deve iluminar nosso coração dele afastando toda a treva. Esta é a Luz que temos de irradiar para o mundo, como discípulos e enviados. Missionários da Verdade e da Vida. Arautos do amor.

O Reino de Deus está em nosso coração. E se está em nosso coração ele deverá estar também em nosso meio. A chama que tomamos do Círio Pascal, na força do Cristo Ressuscitado, se extinguirá de nosso coração se não for repartida, se não se tornar missão.

Cristo é a Luz. Por sua Palavra fomos criados sem nossa participação. Mas, tendo nos dado a liberdade, Ele não nos salvará sem a nossa colaboração. 

Sejamos, pois, o novo pão, o novo fermento. Fecundemos o mundo para que se transforme no Reino de Deus, o Reino de Justiça, Amor e Paz.

A Luz do Cristo que ressurge glorioso dissipe as trevas do Mal em nosso coração e em nosso meio.

Ascensão do Senhor ao céu
Cristo, em sua humanidade santíssima, já chegou à glória, essa glória que, até o momento, é aurora para o resto da humanidade. Ainda não podemos experimentará-la, mas cremos firmemente nela. De fato, a esperança nesse reino induziu tantos homens, depois de Cristo, a entregar sua vida, sem temer a morte; homens que conformam uma constelação quase infinita de jóias na história da Igreja: são os mártires. Mas não só os mártires; na realidade, todos estamos chamados a uma única santidade e todos devemos viver com os olhos de nosso coração voltados para o céu porque "passa a figura deste mundo" e logo seremos "recebidos na paz e na suma bem-aventurança, na pátria que brilhará com a glória do Senhor". (Gaudium et spes, 93). 

Assim como na solenidade de Páscoa a ressurreição do Senhor foi para nós causa de alegria, assim também agora sua ascensão ao céu nos é um novo motivo de alegria, ao lembrar e celebrar liturgicamente o dia em que a pequenez de nossa natureza foi elevada, em Cristo, acima de todos os exércitos celestiais, de todas as categorias de anjos, de toda a sublimidade das potestades, até compartilhar o trono de Deus Pai. Fomos estabelecidos e edificados por este modo de atuar divino, para que a graça de Deus se manifestasse mais admiravelmente, e assim, apesar de ter sido afastada da vista dos homens a presença visível do Senhor, pela qual se alimentava o respeito dele para com Ele, a fé se mantivesse firme, a esperança inabalável e o amor aceso. 

Nisto consiste, com efeito, o vigor dos espíritos verdadeiramente grandes, isto é o que realiza a luz da fé nas almas verdadeiramente fiéis: crer sem vacilar no que nossos olhos não vêem, ter fixo o desejo no que não pode alcançar nosso olhar. Como poderia nascer esta piedade em nossos corações, ou como poderíamos ser justificados pela fé, se nossa salvação consistisse apenas no que nos é dado ver? 

Assim, todas as coisas referentes a nosso Redentor, que antes eram visíveis, passaram a ser ritos sacramentais; e, para que nossa fé fosse mais firme e valiosa, a visão foi substituída pela instrução, de modo que, em diante, nossos corações, iluminados pela luz celestial, devem apoiar-se nesta instrução. 

Esta fé, aumentada pela ascensão do Senhor e fortalecida com o dom do Espírito Santo, já não se abate pelas correntes, a prisão, o desterro, a fome, o fogo, as feras nem os refinados tormentos dos cruéis perseguidores. Homens e mulheres, crianças e frágeis donzelas lutaram em todo o mundo por esta fé, até derramar seu sangue. Esta fé afugenta os demônios, cura doenças, ressuscita os mortos. 

Por isso os próprios apóstolos, que, apesar dos milagres que haviam contemplado e dos ensinamentos que haviam recebido, se acovardaram diante das atrocidades de paixão do Senhor e se mostraram arredios em admitir sua ressurreição, receberam um progresso espiritual tão grande da ascensão do Senhor, que tudo o que antes era motivo de temor tornou-se motivo de gozo. É que seu espírito estava agora totalmente elevado pela contemplação da divindade, do que está sentado à direita do Pai; e ao não ver o corpo do Senhor podiam compreender com maior claridade que aquele não havia deixado o Pai, ao descer à terra, nem havia abandonado seus discípulos, ao subir aos céus. 

Então, amadíssimos irmãos, o Filho do homem mostrou-se, de um modo mais excelente e sagrado, como Filho de Deus, ao ser recebido na glória da magestade do Pai, e, ao afastar-se de nós por sua humanidade, começou a estar presente entre nós de um novo modo e inefável por sua divindade. 

Então nossa fé começou a adquirir um maior e progressivo conhecimento da igualdade do Filho com o Pai, e a não necessitar da presença palpável da substância corpórea de Cristo, segundo a qual é inferior ao Pai; pois, subsistindo a natureza do corpo glorificado de Cristo, a fé dos fiéis é chamada onde poderá tocar ao Filho único, igual ao Pai, não mais com a mão, mas mediante o conhecimento espiritual. 

Dos Sermões de São Leão Magno, Papa

Pentecostes
Era para os judeus uma festa de grande alegria, pois era a festa das colheitas. Ação de graças pela colheita do trigo. Vinha gente de toda a parte: judeus saudosos que voltavam a Jerusalém, trazendo também pagãos amigos e prosélitos. Eram oferecidas as primícias das colheitas no templo. Era também chamada festa das sete semanas por ser celebrada sete semanas depois da festa da páscoa, no qüinquagésimo dia. Daí o nome Pentecostes, que significa "qüinquagésimo dia". 

No primeiro pentecostes, depois da morte de Jesus, cinqüenta dias depois da páscoa, o Espírito Santo desceu sobre a comunidade cristã de Jerusalém na forma de línguas de fogo; todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas (At 2,1-4). As primícias da colheita aconteceram naquele dia, pois foram muitos os que se converteram e foram recolhidos para o Reino.

Quem é o Espírito Santo? 

O prometido por Jesus: "...ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a realização da promessa do Pai a qual, disse Ele, ouvistes da minha boca: João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias" (At 1,4-5).

Espírito que procede do Pai e do Filho: "quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade que vem do Pai, ele dará testemunho de mim e vós também dareis testemunho..." (Jo 15 26-27). O Espírito Santo é Deus com o Pai e com o Filho. Sua presença traz consigo o Filho e o Pai. Por Ele somos filhos no Filho e estamos em comunhão com o Pai.

Santíssima Trindade
Em comunhão com a Santíssima Trindade

Com o fim do Tempo Pascal, na solenidade de Pentecostes, a Igreja entoa um grande e solene louvor à Santíssima Trindade, celebrando numa síntese a plenitude do Mistério do Deus-Amor. Proclama que, desde a Criação do universo até os fins dos tempos, a história é dirigida pelo Deus Uno e Trino, comunhão perfeita do Pai com o Filho e o Espírito Santo.

Antes de querer estabelecer uma explicação sistemática do Mistério Trinitário, a solenidade da Santíssima Trindade quer ser a expressão da experiência de um Deus que se mostra como Pai, Filho e Espírito Santo, e que, na comunhão perfeita de três Pessoas distintas, constrói a esperança de uma sociedade que também anseia pela comunhão perfeita entre homens e mulheres.

Jesus revela-nos a Trindade

A expressão de um Deus Trindade já está presente na experiência histórica de Jesus, que diversas vezes falou a respeito de sua união com o Pai, pela ação do Espírito Santo. Somente em Jesus, Verbo Encarnado, é que podemos falar de uma explicitação trinitária de Deus, pois foi nele que o Mistério da Trindade foi revelado de modo pleno à humanidade. O Deus Trino, que na tradição do Antigo Testamento sempre apareceu de maneira velada, recebe em Jesus Cristo sua mais completa tradução: desde sempre Deus é Trindade e somente Nela podemos compreender a plenitude da bondade de Deus.

A Trindade na vida da Igreja

As comunidades cristãs celebram, já na suas origens, o Deus Uno e Trino, através das manifestações litúrgicas e das práticas sacramentais, sobretudo no batismo (Mt 28,16-20; 1 Cor 12,4-6; 2 Cor 13,13; 2 Tes 2,13-14). Somente com o passar do tempo e diante das necessidades apologéticas, foi elaborada uma profissão de fé sistematicamente refletida. A teologia da Trindade nasceu da necessidade de colocar em linguagem lógica a experiência inefável da fé cotidiana. Mas mesmo depois de tanto esforço intelectual, certamente válido e necessário, a teologia da Trindade permanece distante para a maioria dos cristãos.

Como falar da Trindade

A definição de Trindade, usando categorias filosóficas de origem grega, onde se postula um Deus uno em Essência e Natureza, mas trino em Pessoas, que são distintas e igualmente dignas, diz menos a um fiel do que certas analogias mais simples que, correndo o risco de modalismo, se justificam pela proximidade afetiva com que chegam ao coração das pessoas. Assim, a imagem de três velas que juntas formam uma só chama, é mais compreensível do que a definição da relação pericorética entre as três pessoas da Trindade.

Pericórese: expressão grega que literalmente significa uma Pessoa conter as outras duas (em sentido estático) ou então cada uma das Pessoas interpenetrar as outras reciprocamente (sentido ativo). O adjetivo pericorético quer designar o caráter de comunhão que vigora entre as divinas Pessoas da Trindade. 

Justamente por isso é que falamos da Trindade a partir da experiência do Amor que por Ela nos é transmitida. Assim nos aproximamos do Pai, Amante Eterno, que se debruça sobre o Filho, o Eterno Amado, pelo elo amoroso do Espírito Santo, o Amor Eterno (Santo Agostinho). Somente com esta disposição do coração podemos ousar penetrar na complexidade da Trindade de maneira simples e encontrar o Pai que cria, o Filho que redime e o Espírito que santifica. Três unidos num só ideal de amor: ser comunhão plena e extravasar esta plenitude a todas as criaturas.

O Pai

Jesus nos revela o Pai - Abba - dentro de sua própria vida e ação. O Pai de Jesus é compassivo e misericordioso, pronto para o perdão e acolhida. O Pai de Jesus toma sempre as iniciativas amorosas (1Jo 4,10-16); sua fidelidade é infinita (Is 40,8); busca, a todo custo, recuperar aqueles que são seus (Mt 15,24; Lc 15, 4-7; Lc 19,10). Não é nunca um Deus hermético, fechado em si mesmo, distante. Ao contrário, sua alegria é poder participar da vida humana, criada por Ele em vista da plena felicidade. Ao mesmo tempo, o Pai de Jesus mantém sua alteridade como Deus. A síntese plástica do Pai de Jesus é certamente o pai misericordioso da parábola (Lc 15,1-32). É Ele a nos dizer continuamente: "Homem, considera que eu fui o primeiro a amar-te. Não estava ainda no mundo, nem mesmo o mundo era e eu já te amava. Amo-te desde que eu sou Deus" (Santo Afonso).

O Filho

Ao revelar o Pai, Jesus revela-se como o Verbo Encarnado (Jo 1,14), o Filho Amado do Pai (Mt 3, 17; 17, 5). Ele e o Pai são Um, ou seja, entre Pai e Filho não há contradição de vontades ou atitudes. Entretanto a unidade entre ambos não é uma identificação que elimina distintções, mas é antes uma comunhão que exalta a alteridade pessoal de cada um deles. Toda a ação de Jesus busca a dignidade humana e reflete o desejo último de Deus Pai, a plenitude da vida (Jo 10,10).

O Espírito

Porém, o diálogo entre Pai e Filho, caso não se abrisse a outros, resultaria numa contemplação narcisista ad infinitum. Surge então a realidade libertadora do Espírito Santo, o qual rompe com a possível infecundidade do diálogo entre Pai e Filho e possibilita uma frutuosa relação de comunhão na Trindade e desta com todo o Universo. O amor entre as Pessoas da Trindade é tão perfeito e tão amplo, que explode e se esparrama pelo Cosmos, levando às criaturas o ideal de comunhão perfeita na unidade (Jo 17, 21-22).

A Trindade e nós

Finalmente é preciso falar das conseqüências de se crer num Deus Trindade. O Deus cristão é o Deus Comunhão de Amor. Crer nesta realidade significa professar nossa esperança na plenitude da História, aceitação e realização do pleno ideal de comunhão entre os seres humanos. Significa aceitar as diferenças entre as pessoas humanas, em todos os aspectos, mas acreditar num sonho comum de felicidade plena. Significa professar que no Deus Trino está a chave para a superação dos egoísmos humanos, geradores da violência e exclusão, e vislumbrar uma sociedade, onde a comunhão dos diferentes, resulta numa harmonia geradora de Vida. Talvez esta seja a Boa Nova que não temos ainda anunciado.

Autor: Fr.Evaldo César de Souza, C.Ss.R.
Fonte: http://www.redemptor.com.br

Corpus Christi
As primeiras gerações cristãs celebravam a Eucaristia, denominada “fração do pão”, no dia do Senhor, o domingo, como memorial da ressurreição de Jesus Cristo. Quando foi organizado o Tríduo Pascal, começou-se fazer uma memória especial da instituição da Eucaristia na noite da quinta feira, junto com o lava-pés. A compreensão da presença sacramental do Senhor sob os sinais do pão e do vinho permanece na Igreja até o século IX.

Em novo contexto teológico, já distanciado das origens cristãs, muda também o enfoque sobre a Eucaristia. Ela perde seu caráter popular e comunitário. Perde-se a prática da comunhão sob duas espécies. Algumas explicações acentuam só o símbolo, outras só a realidade da Eucaristia, quando a tradição unira sempre os dois aspectos sob a compreensão sacramental. No século XI, Berengário, padre da Diocese de Tours, na França, querendo contribuir para melhor compreensão da questão, ensina equivocadamente que o pão e o vinho consagrados são somente sinais da união espiritual com o corpo do Senhor que está nos céus. Surgem reações opostas insistindo na presença real e, de tal forma, que se cria um clima de ardor piedoso, até o século 13, com muitas notícias de milagres eucarísticos, com hóstias e corporais manchados de sangue, excitando a mente dos fiéis e produzindo devoções ambíguas. 

Os exageros são tais que as autoridades da Igreja passam a exigir condições para se receber a comunhão. Os teólogos escolásticos, especialmente Santo Tomás de Aquino, elaboraram a teologia que temos ainda hoje centrada na presença real. Para fortalecer as práticas eucarísticas, o Concílio de Latrão 4º, em 1215, decide que a comunhão deva ser recebida pelo menos uma vez por ano, na Páscoa. Em 1264, o Papa Urbano 4º instituiu a festa de Corpus Christi para promover a veneração pública da Eucaristia, com a procissão que se costuma fazer até hoje. 

Na Reforma Protestante, Lutero manteve-se basicamente dentro da teologia católica sobre a Eucaristia, e os demais líderes da Reforma retomaram posições enfatizando o simbolismo e a ceia. O Concílio de Trento reorganizou a doutrina católica no seu todo e deu sempre ênfase às posições opostas às dos reformadores protestantes. Em Trento, a Eucaristia foi definida pela presença real de Jesus e pelo seu valor como sacrifício. Estas posições chegaram ao Brasil com a primeira evangelização no período colonial e se mantiveram até o Concílio Vaticano II, formando a imensa devoção do nosso povo católico pela Eucaristia. 

Para muitos ela é, antes de tudo, um espetáculo e, mesmo sem o dizer, entendem-na como um aparecimento de Deus no mundo, como um espetáculo em que o próprio Deus se faz de certo modo visível. Nossa tradição eucarística está muito ligada ao período colonial em que a festa de Corpus Christi era chamada de “Triunfo Eucarístico”. Nas solenes procissões, o Santíssimo Sacramento era carregado pelo padre como num cortejo, sobre tapetes artisticamente preparados nas ruas e com as janelas das casas ricamente enfeitadas. Essa tradição não se perdeu, dura até hoje em proporções diferentes conforme as regiões. Perdura na importância que se dá à elevação da hóstia consagrada, nas diversas homenagens que os fiéis costumam prestar nas igrejas, especialmente nas capelas do Santíssimo, com prostrações, reverências, beijos e toques com a mão na porta do sacrário. São expressões que sugerem um contato físico com o sagrado. Essas manifestações tinham perdido um pouco de intensidade nos anos do pós-concílio, mas foram resgatadas e mesmo ultrapassadas por grupos de perfil carismático.

Talvez nos falte uma catequese lúcida e para o nosso tempo sobre a Eucaristia, que nos ajude resgatar como ela é compreendida no Novo Testamento: memorial da nova aliança realizada na paixão de Jesus e na sua ressurreição, em forma de comida e bebida, memória do único sacrifício de Jesus em forma de sacramento. O 39º Congresso Eucarístico Internacional, realizado no ano passado em Québec (Canadá), teve como tema central “A Eucaristia, dom de Deus para a vida do mundo”. Pode vir daí o desafio para recuperarmos as origens cristãs, distinguindo as devoções das expressões de fé. 

Frei Odair Verussa é frade capuchinho, professor da Escola de Teologia para Leigos da Diocese de Piracicaba


A festa do Coração de Jesus
A Igreja celebra a Festa do Sagrado Coração de Jesus na sexta feira da semana seguinte à Festa de Corpus Christi. O coração é mostrado na Escritura como símbolo do amor de Deus. No Calvário o soldado abriu o lado de Cristo com a lança (Jo 19,34). Diz a Liturgia que “aberto o seu Coração divino, foi derramado sobre nós torrentes de graças e de misericórdia”. Jesus é a Encarnação viva do Amor de Deus, e seu Coração é o símbolo desse Amor. Por isso, encerrando uma conjunto de grandes Festas (Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade, Corpus Christi), a liturgia nos leva a contemplar o Coração de Jesus. 
Este sagrado Coração é a imagem do amor de Jesus por cada um de nós. É a expressão daquilo que São Paulo disse: ”Eu vivi na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim (Gl 2,20). É o convite a que cada um de nós retribua a Jesus este amor, vivendo segundo a Sua vontade e trabalhando com a Igreja pela salvação das almas. 
Muitos Santos veneraram o Coração de Jesus. Santo Agostinho disse: “Vosso Coração, Jesus, foi ferido, para que na ferida visível contemplássemos a ferida invisível de vosso grande amor”. São João Eudes, grande propagador desta devoção no século XVII, escreveu o primeiro ofício litúrgico em honra do Coração de Jesus, cuja festa se celebrou pela primeira vez na França, em 20 de outubro de 1672. 
Jesus revelou o desejo da Festa ao seu Sagrado Coração à religiosa Santa Margarida Maria Alacoque, na França, mostrando-lhe o “Coração que tanto amou os homens e é por parte de muitos desprezado”. S. Margarida teve como diretor espiritual o padre jesuíta S. Cláudio de la Colombière, canonizado por João Paulo II, e que se incumbiu de progagar a grande Festa. 
O Papa Pio XII afirmou que tudo o que S. Margarida declarou “estava de acordo com a nossa fé católica”. Este foi um grande sinal a mais da misericórdia e da graça para as necessidades da Igreja, especialmente num tempo em que grassava a heresia do jansenismo (do bispo francês Jansen) que ensinava uma religião triste e ameaçadora. 
O Papa Clemente XIII aprovou a Missa em honra do Coração de Jesus e Pio X, dia 23 de agosto de 1856, estendeu a Festa para toda a Igreja a ser celebrada na sexta-feira da semana subseqüente à festa de Corpus Christi. O papa Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Paulo VI disse certa vez que ela é garantia de crescimento na vida cristã e garantia da salvação eterna. 
Entre as Promessas que Jesus fez à Santa Margarida está a das Nove Primeiras Sextas Feiras do mês: aos fiéis que fizerem a Comunhão em nove primeiras sextas-feiras de cada mês, seguidas e sem interrupção, prometeu o Coração de Jesus a graça da perseverança final, o que significa que a pessoa nunca deixará a fé católica e buscará a sua santificação. São as chamadas Comunhões reparadoras a Jesus pela ofensa que tantas vezes seu Sagrado Coração é tão ofendido pelos homens. 
Pio XII disse: “Nada proíbe que adoremos o Coração Sacratíssimo de Jesus Cristo, enquanto é participante e símbolo natural e sumamente expressivo daquele amor inexaurível em que, ainda hoje, o Divino Redentor arde para com os homens”. 
Essas são as Promessas que Jesus fez: 
“No extremo da misericórdia do meu Coração onipotente, concederei a todos aqueles que comungarem nas primeiras sextas feiras de cada mês, durante nove meses consecutivos a graça do arrependimento final. Eles não morrerão sem a minha graça e sem receber os SS. sacramentos. O meu coração naquela hora extrema ser-lhe-á seguro abrigo”. 
As outras promessas do Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque: 
1 - Conceder-lhe-ei todas as graças necessárias ao seu estado. 
2 - Porei a paz em suas famílias. 
3 - Consolá-los-ei nas suas aflições. 
4 - Serei seu refúgio na vida e especialmente na hora da morte. 
5 - Derramarei copiosas bênçãos sobre suas empresas. 
6 - Os pecadores encontrarão no meu Coração a fonte, oceano infinito de misericórdia. 
7 - Os tíbios se tornarão fervorosos. 
8 - Os fervorosos alcançarão rapidamente grande perfeição. 
9 - Abençoarei os lugares onde estiver exposta e venerada a imagem do meu Coração. 
10 - Darei aos sacerdotes a força de comover os corações mais endurecidos. 
11 - O nome daqueles que propagarem esta devoção ficará escrito no meu Coração e de lá nunca será apagado. 

Padroeira do Brasil: Nossa Senhora Aparecida


Nossa Senhora em suas manifestações, geralmente adota a fisionomia do povo do país ou do lugar onde ela se manifesta. No México, deixou sua imagem impressa no manto do índio Juan Diego e ao contemplar sua imagem é interessante observar os traços indígenas de seu rosto. Em Lourdes, na França, a Virgem Imaculada Conceição dirigiu-se a Bernadete no dialeto falado naquela região dos Pirineus.

Em Aparecida, Maria se deixa encontrar nas águas do rio Paraíba do Sul por três pescadores, em 1717, período em que no Brasil Colônia vigorava o regime de escravidão. Ao apanharem em suas redes uma imagem partida – corpo e cabeça – enegrecida por causa da água do rio e das velas acesas em sua honra, os três homens viram no acontecimento uma ajuda especial para a pesca abundante, após várias tentativas em vão.

Entre os muitos milagres atribuídos à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, é muito conhecido o do escravo liberto das correntes que o prendiam enquanto, de joelhos, invocava a Virgem Maria.

Mais tarde, alguns pregadores interpretaram esse prodígio como uma manifestação da solidariedade da Virgem Maria, em especial, com seus filhos feridos em sua dignidade humana e um sinal de sua ajuda na luta pela defesa de sua libertação.

Aquela imagem pequenina despojada de tudo, foi aos poucos se tornando  objeto de especial veneração do povo brasileiro. Os devotos logo a cobriram com um manto da cor do céu brasileiro e a cingiram com uma coroa, reconhecendo-a como rainha – a servidora do povo junto de Deus.

Em 1904, no dia 08 de setembro, o Papa Pio X, traduzindo o sentimento do povo e atendendo ao pedido de Dom Joaquim Arcoverde, feito em nome do episcopado brasileiro, autorizou, como era usual na Igreja para imagens e quadros insignes, a coroação solene da imagem de Nossa Senhora Aparecida.

No dia 17 de julho de 1930, o Papa Pio XI, atendendo ao pedido dos Bispos brasileiros, assinou o Decreto de Proclamação de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil.

Em 1931, no dia 16 de julho, na então Capital do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, o Presidente da República, o senhor Getúlio Vargas, acompanhado de todo o seu Ministério, autoridades diplomáticas, civis, militares e eclesiásticas e de uma grande multidão de fiéis, comemoraram solenemente Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.

Maria é venerada e amada pelo povo brasileiro, de norte a sul, de leste a oeste e invocada com os mais variados títulos, sendo o título de Nossa Senhora Aparecida – que o povo lhe deu espontaneamente – o mais querido e invocado com mais carinho.

Outros países do mundo – e até mesmo Continentes – tem seu padroeiro. A Igreja proclamou Santa Joana D’Arc, padroeira de França; São Tiago, padroeiro da Espanha. O Papa Pio X declarou Nossa Senhora de Guadalupe “Celestial Padroeira da América Latina”. Paulo VI proclamou São Bento padroeiro da Europa e João Paulo II acrescentou São Cirilo e Metódio, Santa Brígida da Suécia, Santa Catarina de Sena e Santa Edith Stein.

Porque o Brasil, o país mais católico da atualidade não tem direito de ter sua padroeira?

Nossa Senhora Aparecida tem sido, para muitos de nosso povo, inspiração de um estilo de vida solidária, fraterna, de atenção e acolhida ao outro, especialmente, aos mais pobres. Sua presença e devoção têm sido um elo de união e de integração entre todas as etnias, e nunca de divisão.

Esporadicamente, aparecem oportunistas e com interesses escusos, questionando o título de “Padroeira do Brasil”, dado pela Igreja a Nossa Senhora Aparecida e acolhido calorosamente pelo povo brasileiro. A iniciativa de propor à Câmara Federal retirar este título é descabida, pois não foi ela quem o outorgou a Nossa Senhora Aparecida, além de tal proposta ofender o sentimento religioso do povo brasileiro, e em nada contribuir para tornar melhor a vida de nosso povo; antes muito pelo contrario, Nossa Senhora Aparecida é a Rainha e a Padroeira do Brasil por  proclamação da Igreja e do povo brasileiro!


Finados
No dia 2 de novembro, celebramos de modo especial a memória dos nossos irmãos já falecidos, rogando a Deus por eles. A liturgia realça a ressurreição e a vida, tendo como referência a própria ressurreição de Cristo. Embora sintamos a morte de alguém, acreditamos na vida eterna. Por isso Santo Agostinho nos recomenda: “Saudade sim, tristeza não.”

ORIGEM - A lembrança dos falecidos sempre esteve presente nas celebrações da Igreja, com um momento especial na missa, desde início do cristianismo. Já no primeiro século, os cristãos rezavam pelos falecidos, visitavam os túmulos dos mártires nas catacumbas para orar por eles. No século IV, já se encontra a memória dos mortos na celebração da missa. Desde o século V a Igreja dedica um dia por ano para fazer oração por todos os falecidos. Mais tarde, fixou-se o dia 2 de novembro como dia especial de oração pelos mortos.

SOLIDARIEDADE ESPIRITUAL - De acordo com a doutrina cristã, existe um estado de purificação, depois da morte, chamado Purgatório. “Os que morrem reconciliados com Deus, mas carregando faltas, misérias, dívidas espirituais por pecados cometidos, necessitam se purificar para que possam entrar no Reino de Deus, que é o reino da santidade perfeita. Rezamos pelos nossos mortos, pois a Igreja ensina que, pela solidariedade espiritual que existe entre os batizados, temos condições de oferecer preces, sacrifícios em sufrágio das almas do purgatório.” Por isso oferecemos orações e missas pelos falecidos.

SENTIDO DO DIA - Na piedade popular inspirada em nossa fé católica, o Dia de Finados é marcado por três características: é o dia da saudade, o dia de fazer memória, o dia de professar a fé na ressurreição. É dia da saudade, pois nos faz sentir a ausência de quem foi presença em nossas vidas; ao mesmo tempo que se sente a ausência, revive-se a presença. Mas a memória dos entes queridos que partiram é confortada pela nossa fé na ressurreição. Se a certeza da morte nos entristece, a promessa da ressurreição nos faz viver da esperança de que a morte não é o fim da vida, mas é a passagem de uma vida peregrinante por este mundo para a vida na pátria definitiva.

VIDA TRANSFORMADA - Para o cristão, a morte é o início de uma nova etapa. Embora a tristeza nos domine quando perdemos um ente querido, a esperança nos consola, pois, como rezamos na Liturgia, “para os que crêem, a vida não é tirada, mas transformada; e desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível.” A fé na ressurreição encoraja nosso viver e nos impulsiona à prática do bem, deixando-nos conduzir pelo Espírito Santo. 

GARANTIA DE RESSURREIÇÃO - O Apóstolo Paulo nos ensina: “Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também aos vossos corpos mortais.” Para essa esperança, o próprio Deus nos deu a garantia ressuscitando o seu Filho Jesus. Se Deus ressuscitou a Ele, então nós temos a prova de que este Deus não deixa os mortos na morte. Se Deus ressuscitou Jesus, diz Paulo, então “Ele também ressuscitará a todos nós.” (1 Cor 6,14) 

CHAMADOS À RESSURREIÇÃO - Na Profissão de Fé rezamos: Creio na ressurreição, creio na vida eterna. Que essa fé nos impulsione na caminhada até Deus, seguindo os ensinamentos de Jesus Cristo. Assim construiremos uma vida feliz que se realizará de forma plena e perfeita após a morte, quando seremos envolvidos pelo abraço amoroso de nosso Pai. Todos morremos mas somos chamados à ressurreição por Cristo. Por isso o Dia de Finados é um convite a celebrarmos a vida e a esperança.

Dia de Finados: comemoração dos fiéis defuntos
Prof. Renold J. Blank

A festa de finados nos confronta ano por ano com a mesma questão: o que aconteceu com os nossos mortos? Será que eles desapareceram para sempre? Ou será que eles entraram em novos ciclos de reencarnação, de tal maneira que voltarão em outra época e em outra forma, para viverem mais uma vida? Ou será que eles chegaram àquelas outras dimensões, das quais a religião cristã nos fala? Três possibilidades. Três alternativas. Qual delas é a verdadeira? Quem tem razão? A pergunta está sendo formulada. E diante do fato de nossa morte, da morte de nossos entes queridos, se exige uma resposta.

O Apocalipse de São João, numa visão grandiosa nos apresenta a imagem de “uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9), reunidos em torno de Deus numa felicidade inimaginável. Eles “não mais têm fome nem sede, nem cairá sobre eles o sol nem calor algum” (Ap 7,16). Na imagem desta multidão, o autor do apocalipse quer transmitir aquilo que é o centro da Boa Nova cristã. A certeza de que o nosso destino final não será em algum lugar assombroso dos mortos, nem num “xeol” despersonalizado, nem numa nova vida terrena depois de mais uma reencarnação.

O nosso destino final é a comunhão pessoal e íntima com Deus. É este o plano dele e é para isso que Ele nos criou. Para que nele e através dele cheguemos à nossa plenificação. Esta plenificação, no entanto, não é o resultado de centenas e milhares de vidas, vividas no decorrer de sempre novas reencarnações. Ela é dom e graça de Deus que ama. De um Deus que se apaixonou por nós, e que, por causa disso, nos ressuscitará depois de uma única vida, para que sejamos para sempre unidos a Ele. Unidos com aquele que nos ama, numa êxtase de amor, pela qual o apóstolo Paulo, balbuciando, só consegue dizer que “nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais penetrou no coração do homem, o que Deus preparou para aqueles que amam.” ( 1 Cor 2,9)

No festa de Finados exprimimos a esperança de que os nossos entes queridos que já morreram já chegaram a este destino. Destino de todos nós. Destino planejado para nós, por um Deus que nos ama. Destino feliz, de tal maneira que o Dia de Finados pode ser uma das nossas maiores festas. Uma das nossas celebrações mais alegres e felizes, porque aqueles que nós amávamos já chegaram a um destino tão maravilhoso. O que nós celebramos neste dia, é a festa da ressurreição dos nossos entes queridos, e a esperança firmemente fundamentada em Jesus Cristo, que também nós, um dia, vamos ressuscitar.


Cristo Rei
A Igreja encerra o Ano Litúrgico da Igreja com a festa de Cristo Rei, coroando toda essa jornada.

Cristo Rei foi uma das últimas celebrações instituída pelo Papa Pio XI, na época em que o mundo passava pelo pós-guerra de 1917, marcado pelo fascismo na Itália, pelo nazismo na Alemanha, pelo comunismo na Rússia, pelo marxismo-ateu, pela crise econômica, pelos governos ditatoriais que solapavam toda a Europa, pela perseguição religiosa, pelo liberalismo e outros que levavam o mundo e o povo a afastar-se de Deus, da religião e da fé, culminando com a 2ª Guerra Mundial.

O Papa Pio XI instituiu essa festa para que todas as coisas culminassem na plenitude em Cristo Senhor, simbolizado no que diz o Apocalipse: ”Eu sou o Alfa e o Ômega, Principio e Fim de todas as coisas.” (Ap1, 8) Ressalta a restauração e a reparação universal realizada em Cristo Jesus, Senhor da vida e da história. Nessa festa, celebra-se também nossa participação no Reino de Deus, sob a condição de aderirmos à verdade trazida por Jesus, pela qual somos caminheiros que se dirigem à Casa do Pai, para participarmos da mesa do Reino e de assumirmos o compromisso do Evangelho.

A celebração, fechando o Ano Litúrgico, traz para nós cristãos a reflexão em torno da vida de Jesus que significa para nós a salvação, onde impera no mundo o pecado.

Pilatos pergunta a Jesus se ele é rei, e Ele responde que seu reino não é deste mundo de injustiça, ódio, morte e dor.Ele é rei do reino de seu Pai que, como pastor, guia a sua Igreja neste mundo para o reino celeste. Por isso, fazer parte desse Reino é fazer comunhão com Ele, transformar o mundo em que vivemos.

Jesus Cristo é rei e pastor que nos leva ao Reino de Deus, que nos tira das trevas do erro e do pecado, que nos guia para a plena comunhão com o Pai pelo amor. Jesus nos aponta como “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14, 6) para que possamos imitá-lo mesmo diante de nossas fraquezas e medos, morrer com Ele para participarmos de sua vitória.

Olhando o nosso mundo, vemos o sofrimento de tantos irmãos que trazem consigo a cruz de Cristo, como sinal de vitória e de redenção do mundo. Mesmo diante das nossas aflições, dores, angustias e injustiças, não podemos ser derrotados, mesmo quando estivermos sozinhos, quando nos sentimos abandonados como os discípulos abandonaram Jesus. Portanto a amargura não poderá tomar conta de nosso coração. Não podemos querer entender a Deus em seu mistério, nem duvidar de seu amor para com todos, mas acolher tudo por amor a Deus, como festa de um grande banquete do qual um dia participaremos na eternidade.

Bem-aventurados aqueles que sofrem, são perseguidos e padecem todo tipo de injustiças, pois como servo bom e fiel, um dia acolhido por Jesus na mesa do Reino, será bendito. E Ele passando servirá aqueles que souberam viver a justiça, a caridade e fazer o bem na vida dos irmãos.

É a grande promessa de Jesus para nós, filhos benditos do Pai: sua realeza não é deste mundo, por isso devemos anunciar a verdade libertando os homens do pecado, dando-lhes uma verdadeira conversão do coração.

Jesus é a testemunha fiel da verdade, isto é , seu desígnio de salvação do mundo. Veio revelar com a própria vida o grande sacrifício da cruz, da sua paixão e morte por amor, nessa mesma cruz pela qual Ele atrairá todos ao seu coração. Tudo por amor, fonte primeira de união com Deus, Ele desfaz as injustiças em liberdade, tornando grande sacerdócio do povo santo de Deus em que cada um se santifica no mundo. 

Ser cristão é construir o Reino de Cristo no mundo através do serviço gratuito e fraterno, humilde, deixando-se fazer a vontade do Pai. Você está disposto a fazer acontecer o Reino? De que maneira?

Junto com a solenidade de Cristo Rei, celebra-se o Dia do Leigo e da Leiga, que possuem uma vocação especial, muitas vezes esquecida. Ser leigo e leiga no mundo de hoje é um desafio. Os cristãos leigos ocupam diversos serviços na vida da Igreja e assumem uma vocação particular de constituir família e ser testemunho no meio dos outros, como pedras vivas da Igreja, trabalhadores do Reino Cristo-Rei.

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