O papa Bento XVI apareceu para o público pela última vez, no Papamóvel, por volta das 10h40 locais (6h40 de Brasília). Durante o trajeto que durou cerca de 15 minutos, ele foi ovacionado com gritos de "Bento! Bento!" e "Viva o Papa!".
O Vaticano distribuiu 50 mil entradas para a audiência, mas havia cerca de 100 mil pessoas na Praça São Pedro para acompanhar o papa um dia antes de sua renúncia.
Vários grupos de pessoas, entre religiosos, seminaristas e estudantes, com bandeiras de seus países, estavam na praça. Sob sol e com severas medidas de segurança, jovens voluntários, a maioria do movimento Opus Dei, organizavam a entrada na praça. Depois da cerimônia, acontecerá uma breve audiência na Sala Clementina com algumas personalidades para o tradicional cumprimento ao papa.
Desde cedo, a área que dá acesso à Praça São Pedro já estava preparada com um esquema especial para grandes eventos. O fluxo de pessoas, contudo, não se equipara com aquele de 1º de maio de 2011, quando João Paulo II foi beatificado.
No centro da praça e nas ruas em torno do Vaticano, milhares de pessoas agitavam bandeiras de países do mundo inteiro e faixas com mensagens de carinho para o Pontífice. O sentimento, entre esses fiéis, é, geralmente, de gratidão em relação a Bento XVI.
“Estar aqui é importante pelo reconhecimento do trabalho do Papa”, diz a Irmã Patrícia, que, enrolada numa bandeira brasileira, chegou aos arredores da Praça São Pedro às 5h30 da manhã e garantiu um lugar na primeira fila. “Vim agradecer o que ele prometeu desde o primeiro dia: ser um servo do senhor”, completou, enquanto tomava o café da manhã trazido de casa.
A catarinense Neusa Zanette – outra que estava enrolada na bandeira brasileira, embora um pouco mais agitada, de pé em cima da cadeira – também veio agradecer ao Papa pelos quase oito anos de Pontificado. Apesar de dizer “que tem coisa muito grossa acontecendo na Igreja”, em uma referencia aos escândalos sexuais envolvendo religiosos, ela acredita que, assim como Jesus Cristo, Bento XVI está tomando “uma decisão para salvar os católicos”.
Frei Nilton Leandro, de Belém do Pará, estava na Terra Santa em retiro. Já havia combinado de vir a Roma mesmo antes da renuncia. "Por coincidência, por providência, estamos aqui", disse.
P. Wiremberg Silva, da Paroquia São José Umarizal, também de Belém disse estar vivendo algo extraordinário. "Evento histórico dentro da vida eclesiástica", disse.
Menos apaixonado em suas afirmações, os padres Mario e Giovanni vieram de Verona, norte da Itália, especialmente para ver a última audiência papal. Mesmo garantindo que o Pontífice mostrou “seu amor à Igreja” e teve coragem em fazer frente “às críticas e calúnias”, ambos esperam uma mudança na mentalidade dos dirigentes católicos com a saída de Bento XVI.
“O Papa soube dizer a verdade, quando falou que é preciso limpar o lixo que tem dentro da Igreja”, afirma Giovanni, prontamente apoiado por Mario. No entanto, os dois gostariam que o próximo papa fosse mais próximo dos fiéis.
“Às vezes, o aparato da Igreja frente aos pobres é um escândalo. Temos a impressão de que o Vaticano é uma corte, com todos esses ornamentos”, acusa o padre Giovanni, que por 23 anos viveu no Uruguai e é um entusiasta da Teologia da Libertação, a qual, segundo ele, “nunca foi entendida em Roma”.
Após deixar o Pontificado, o papa Bento XVI irá para a residência de verão dos pontífices, em Castel Gandolfo, nos arredores de Roma. Ele deve ficar no local até seu apartamento, em um antigo mosteiro dentro do Vaticano, ficar pronto. Segundo ele, o resto de seus dias será dedicado à oração.
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